Os Conquistadores Derrotados

O barco se distanciava do porto de Lehfluin e ainda era possível ouvir o sacerdote elfo gritando que aquilo era um erro. Mas Erindil não iria dar ouvidos a uma antiga lenda qualquer.

Erindil Anärion era um nobre senhor dos elfos, descendia de uma antiga família. Muitas das riquezas que possuía vieram de inúmeras aventuras que fizera quando jovem. Conhecera todos os cantos acima das montanhas, que antes acreditava ser o fim das terras, mas as notícias recentes vindas das cidades dos homens falavam de um imenso reino recém conquistado pra lá das montanhas. A velha curiosidade que por tantos caminhos o levou fez com que quisesse conhecer novos lugares e ele queria conquistar o seu reino, um reino para os elfos, onde os primeiros fossem da sua família, então comprou uma pequena frota de navios e resolveu partir atrás de aventuras. 

A brisa soprava os cabelos de Erindil para longe quase tão distante quanto os pensamentos que o assolavam, apesar de querer ignorar o que o sacerdote gritava as palavras não saiam de sua cabeça. O sacerdote dizia que não haveria paz em qualquer lugar que os elfos conquistassem através de guerras, uma terra maculada com o sangue só poderia ser amaldiçoada e que desde os tempos imemoráveis os elfos habitavam as florestas onde nasceram e nenhum mal lhes ocorreu. Erindil teria diversas razões para desconfiar daquelas advertências mas, uma outra família de exploradores elfos havia a alguns anos tentado invadir as ilhas que eram domínios dos orcs e reclamarem o direito de conquista, a empreitada contra os orcs falhou, mais tarde anões e humanos entraram na guerra também tentando obter o domínio das ilhas e os orcs que antes viviam em paz naquelas terras agora tentam retomar o que tantos invasores querem para si. As ilhas agora são banhadas pelo caos e apesar de haver algumas tréguas sempre há o chamado às armas e as quatro raças partem para a guerra que nunca termina. Erindil temia que os alertas fossem verdade porém as aventuras lhe alimentavam e havia muito que ele não tinha uma boa refeição.

Se eram aventuras que Erindil queria ele as encontrou e bem antes do que imaginava. Dias após deixarem o último porto conhecido, onde pararam para abastecer os barcos, foram pegos de surpresa por uma violenta tempestade, a frota, que consistia de trinta embarcações, havia diminuído. Três navios se perderam na tempestade e um outro afundou, os elfos que estavam no navio que naufragado foram quase todos resgatados e um dos navios que se perdeu reapareceu depois de quatro dias. O capitão do navio perdido informou a Erindil que as três embarcações estavam juntas logo quando se separaram da grande frota mas depois ele se separou dos outros dois e sua tripulação conseguiu retomar a linha da costa podendo assim encontrar a frota. Dos outros dois ele não tinha notícias. Apesar das tribulações a viagem seguiu e novas dificuldades foram encontradas mas nada muito grave, os dias se passaram e Erindil sabia que estava por encontrar seu reino.

Era uma bela manhã, depois de tantos dias de chuva a luz do sol era muito bem vinda, Erindil estava na amurada do navio e as palavras que ouvia de seu imediato soavam como uma doce música. Ele era informado que dois barcos que foram enviados mais a frente retornaram com a notícia de uma enorme ilha com natureza ainda intocada. Erindil já ansiava conhecer aquelas terras que viriam a ser seu reino e horas mais tarde finalmente pode avistar a ilha. Os navios ancoraram e um pequeno grupo de elfos, liderados por Erindil, foi à terra para fazer a primeira exploração. Enquanto Erindil ficou somente nos arredores da praia onde pararam os outros elfos se dividiram em vários grupos e foram cada um para uma parte da ilha e a medida que iam retornando traziam novidades pouco agradáveis aos ouvidos de Erindil, a ilha era habitada por orcs e havia uma grande cidade deles ali, os navios que estavam com os orcs traziam bandeiras da grande ilha dos orcs no norte que agora era um lugar de guerra. De certo que aqueles que ali já estavam haviam escapado das guerras buscando outro lugar para viver. Erindil Anärion não iria desistir do seu reino e ordenou aos navios que levassem todos capazes de lutar para terra. Eles dominariam o lugar à força.

Ao ouvir o comando de Erindil um elfo que não havia esquecido das palavras do sacerdote que gritava quando os navios partiam resolveu organizar um pequeno grupo e ir parlamentar com os orcs mas, a discussão foi um fracasso e somente o elfo que organizou a incursão retornou vivo, Erindil enfurecido mandou prender aquele elfo sob a acusação de ofender o orgulho e superioridade dos elfos. Os elfos marcharam contra os orcs e com certa facilidade os derrotaram, os orcs fugiram para o mar e os elfos os seguiram. Os derrotados invadiram uma cidade dos homens nos reinos do sul chamada Porto Vermelho e a cidade que estava despreparada para um ataque sucumbiu, quando os elfos chegaram no continente uniram forças com os homens e foram a caçada dos orcs. Foi a primeira vez que elfos, do que viria a ser o reino de Anärion, e os homens do sul se encontraram numa batalha.

A ilha estava tomada Erindil conquistou seu reino e nascia assim o Reino de Anärion batizado em homenagem ao homem que o conquistou. Os elfos ali ergueram uma imensa cidade batizada com o mesmo nome do novo reino e Erindil foi coroado e por algum tempo conheceu a paz.

Numa tarde algo inimaginável aconteceu, um dos barcos que tinha se perdido na primeira tempestade que a frota pegou no mar reapareceu bem nas praias de Anärion. Poucos eram os elfos que tinham sobrevivido na embarcação e os aqueles que ainda viviam estavam muito debilitados e visivelmente perturbados. Depois que o barco se perdeu no mar ele foi parar numa ilha qualquer que estava repleta de orcs que fugiram das ilhas da guerra lá foram atacados e muitos morreram conseguiram escapar e mais ainda morreram no mar, quando não havia mais esperanças o vento os levou até ali. Erindil mandou tratar dos elfos que ali chegaram mas não havia muito o que fazer estavam fracos e acabaram morrendo todos. O último elfo antes de morrer disse a Erindil que eles erraram em guerrear e talvez somente o sacerdote que tanto alertará do erro que era aquela viagem estivesse certo. Erindil pensou naquelas palavras e por algum tempo remoeu a dura verdade. Por fim decidiu ir ter com o elfo que foi preso por tentar negociar com os orcs e libertá-lo mas qual foi sua surpresa ao abrir a cela e o encontrar morto e nas paredes da prisão escrito a sangue havia uma mensagem:
"Seus derrotados serão meu exército e a vingança será o alimento da minha força."
Erindil contemplou aquela cena com horror mandou limpar a cela mas as palavras nunca se apagaram de sua memória e pela primeira vez ele pensou que aquela empreitada havia sido um erro. Seu reinado seguiu e os elfos de Anärion prosperaram quando Erindil já estava com a idade avançada chamou seu primogênito em seus aposentos. Conversaram por horas e então Erindil confessou que talvez ele tenha despertado um mal terrível e que sombras o atormentaram desde o dia que colocou os pés naquela ilha. Deixou o reino nas mãos do filho e tomou um barco na manhã seguinte e nunca mais retornou.

O reino dos elfos no sul por muito tempo perdurou sempre passando de pai para filho. A família Anärion sempre manteve o comando. Certa vez quando Belfast Anärion o terceiro rei visitou os Reinos do Sul conheceu o grande templo e se sentiu maravilhado com o que viu. Acreditando que aquilo era uma dádiva de Erundhir e que os homens não eram dignos de tal. Decidiu que os direitos daquele lugar divino deveria ser dos elfos. Foi a segunda vez que homens do sul e elfos travaram a mesma guerra mas, desta vez em lados opostos. Foi um triste episódio na história dos dois povos que ficou conhecido como a Guerra dos Invasores.

Quando a guerra estava avançada e muitos já haviam morrido surgiu um mal muito maior que fez com que os dois exércitos se unissem. Histórias terríveis vinham de uma ilha. Uma sombra do mal se erguia e cobria os reinos de homens e elfos e então pela primeira vez Amaranthis o deus da vingança surgiu no mundo. Os homens do grande templo mandaram um exército de homens dos deuses para a batalha. A batalha parecia perdida e as esperanças já tinham acabado quando surgiram os campeões divinos, cavaleiros santos que marcharam contra Amaranthis e se sacrificaram para novamente selar sua alma corrompida. O maligno deus foi trancado em algum lugar desconhecido de uma ilha e foi proibida  qualquer visita de homens e elfos no local. A ilha era habitado por orcs que descendiam daqueles que outrora foram expulsos pelos elfos das suas ilhas no norte. Presságios de mau agouro foram proferidas mas o tempo tratou de fazer com que todos os esquecessem e pelo que se diz somente os grandes druidas detêm o conhecimentos daquelas profecias. Elfos e homens selaram a paz e não houve mais atritos entre os dois reinos. Em todos anos seguintes cem guerreiros elfos faziam uma vigília na floresta dos druidas antes de serem batizados nas armas como sinal da aliança entre as duas raças.

O tempo passou e certa vez um grupo de exploradores elfos de Anärion achou escritos antigos que falavam de um deus que foi trancado. Sem o conhecimento dos senhores do reino aquele grupo navegou até a ilha que era citada nas escrituras e quando de lá retornaram estavam mudados. O mal viera com eles e pelo crime de navegar até a Ilha Proibida foram condenados. Colocaram os prisioneiros num navio sem velas e os soltaram no mar para morrerem. O rei de então era Felgh Anärion e ele seria o último rei dos elfos do sul.

Quando os elfos acreditavam que finalmente seu reino vivia uma época de paz e esperavam que fosse durar o pior aconteceu, na calada da noite o sangue escorria por todas as cidades dos elfos no reino de Anärion. Orcs invadiam o reino, elfos jaziam mortos por todos os cantos e não havia outra saída a não ser a fuga. Inúmeras embarcações de elfos rumaram para o continente esperando o auxílio dos homens. Porto Vermelho veio em auxílio e conseguiu garantir que os elfos sobreviventes chegassem até as terras dos homens. Felgh, o último rei de Anärion, estava morto. Sua esposa e seu filho, que ainda era um bebê, haviam sobrevivido. Os elfos que chegavam até o reino dos homens traziam no rosto uma expressão de incredibilidade e ainda haviam alguns que afirmavam que os que lideravam os orcs eram três elfos e alguns que juravam que aqueles elfos foram os que uma vez foram expulsos de Anärion numa embarcação sem velas. Mas o mais assustador era a lembrança dos gritos dos orcs, "Baurúk" que na língua deles significava "Senhor dos Derrotados" ou "O deus da Vingança".

Os elfos foram acolhidos pelos homens e a eles foi atribuído os domínios da floresta, ali ergueram a sua nova cidade, não tão magnífica como Anärion, que foi batizada Telrúnya. Os homens a chamavam Cidade da Floresta. Ali passariam a viver os últimos elfos do sul e entre eles estava o herdeiro de um reino que já não existia mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário